Como reduzir o Custo Brasil, segundo Rosana Amadeu, presidente do CEISE Br

20/05/2024
Como reduzir o Custo Brasil, segundo Rosana Amadeu, presidente do CEISE Br

Em entrevista, executiva avalia também os impactos da Lei do Aço, proposta por ela apresentada ao governo paulista

O Custo Brasil segue uma barreira para empresas como as fornecedoras do setor sucroenergético.
É um problema que se agrava ainda mais com o avanço da produção de etanol no exterior, mercado em que as empresas brasileiras de bens de capital dominam a tecnologia, mas enfrentam a concorrência em termos de preços.
Mas é possível, sim, reduzir esse Custo Brasil.
É do que trata Rosana Amadeu, presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (CEISE Br) em entrevista exclusiva ao blog Fenasucro. 

Confira a entrevista: 

O custo Brasil sempre foi uma pedra no ‘calcanhar’ dos fornecedores do setor. O que precisamos fazer (com urgência) para disputar em pé de igualdade em mercados que se abrem para o etanol?
Rosana Amadeu - O alto "Custo Brasil" representa um desafio histórico para os fornecedores brasileiros de etanol, limitando sua competitividade no mercado internacional.
Com a crescente demanda global por etanol, especialmente em países como a Índia, que planeja adicionar 20% de etanol à gasolina até 2026, é crucial que o setor brasileiro tome medidas urgentes para se tornar mais competitivo.

Ações urgentes para reduzir o "Custo Brasil":
1. Logística e Infraestrutura:
⦁ Otimização da cadeia logística: Reduzir custos de transporte e armazenamento através da otimização de rotas, investimentos em multimodalidade e integração entre diferentes modais de transporte.
⦁ Modernização da infraestrutura: Investir na modernização de portos, rodovias, ferrovias e aeroportos para aumentar a eficiência e reduzir custos logísticos.
⦁ Desburocratização: Simplificar processos administrativos e reduzir a burocracia para agilizar o transporte e o comércio de etanol. 

2. Melhoria da produtividade:
⦁ Inovação tecnológica: Adotar novas tecnologias na produção agrícola e industrial para aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a qualidade do etanol.
⦁ Pesquisa e desenvolvimento: Investir em pesquisa e desenvolvimento para aprimorar os processos de produção, desenvolver novas variedades de cana-de-açúcar e buscar soluções inovadoras para os desafios do setor.
⦁ Profissionalização da mão de obra: Investir na qualificação e treinamento da mão de obra para aumentar a produtividade e reduzir custos com mão de obra. 

3. Incentivos governamentais:
⦁ Incentivos fiscais: Implementar políticas de incentivos fiscais para a produção e exportação de etanol, reduzindo a carga tributária e tornando o setor mais competitivo.
⦁ Crédito e financiamento: Facilitar o acesso a crédito e financiamento para o setor, permitindo investimentos em infraestrutura, tecnologia e inovação.
⦁ Promoção internacional: Promover o etanol brasileiro no mercado internacional através de campanhas de marketing, participação em feiras e eventos internacionais, e acordos comerciais com outros países.

4. Cooperação entre os setores:
⦁ Fortalecimento das entidades do setor: Fortalecer as entidades do setor de etanol para que representem os interesses dos produtores, exportadores e demais envolvidos de forma mais eficaz.
⦁ Colaboração entre empresas: Incentivar a colaboração entre empresas do setor para compartilhar conhecimentos, tecnologias e boas práticas, buscando soluções conjuntas para os desafios comuns.
⦁ Diálogo com o governo: Manter um diálogo aberto e constante com o governo para discutir políticas públicas, buscar soluções para os problemas do setor e garantir um ambiente de negócios mais favorável. 

Isso tudo exige esforço conjunto?
Rosana Amadeu - Enfrentar o "Custo Brasil" e se tornar competitivo no mercado global de etanol exige um esforço conjunto do setor privado e do governo.
As ações urgentes descritas acima, como otimização da logística, investimento em tecnologia, profissionalização da mão de obra, incentivos fiscais e cooperação entre os setores, são essenciais para que o setor brasileiro de etanol possa aproveitar as oportunidades que se abrem no mercado internacional, como a crescente demanda por etanol na Índia.
Ao implementar essas medidas de forma rápida e eficaz, o setor brasileiro de etanol poderá superar os desafios do "Custo Brasil" e se posicionar como um player competitivo e relevante no mercado global de etanol, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do país e a geração de renda e emprego. 

Lei do Aço: Por que essa propositura, apresentada recentemente pelo CEISE Br ao governo de São Paulo, é tão estratégica para o setor de bens de capital focado em setores como o sucroenergético?
Rosana Amadeu - A recente proposta da "Lei do Aço" no Estado de São Paulo surge como uma iniciativa estratégica para o setor de bens de capital, com foco em áreas como o sucroenergético, papel e celulose, e outros.
Para compreender a relevância dessa proposta, é crucial analisar seus objetivos, benefícios potenciais e impacto esperado em cada um dos setores mencionados.
A Lei do Aço visa, principalmente, estimular o desenvolvimento da indústria metalmecânica paulista, através da concessão de incentivos fiscais e da criação de um ambiente regulatório mais favorável.

Entre os principais objetivos específicos, podemos destacar:
⦁ Redução da carga tributária: A lei prevê a redução da alíquota do ICMS para produtos siderúrgicos, diminuindo os custos de produção das empresas do setor de bens de capital.
⦁ Atração de investimentos: A criação de um ambiente fiscal mais vantajoso visa atrair novas empresas para o estado, impulsionando a geração de empregos e o desenvolvimento tecnológico.
⦁ Fortalecimento da competitividade: Ao reduzir custos e atrair investimentos, a Lei do Aço busca tornar as empresas paulistas mais competitivas no mercado nacional e internacional.

Benefícios para o setor de bens de capital:
Os benefícios da Lei do Aço para o setor de bens de capital se traduzem em diversos aspectos:
⦁ Redução de custos: A diminuição da carga tributária impacta diretamente nos custos de produção, tornando os produtos finais mais competitivos.
⦁ Aumento da competitividade: Com custos reduzidos e maior acesso à tecnologia, as empresas do setor se tornam mais competitivas no mercado, tanto internamente quanto externamente.
⦁ Estímulo à inovação: O ambiente favorável à pesquisa e desenvolvimento, impulsionado pela lei, incentiva a criação de novas tecnologias e produtos inovadores.
⦁ Expansão do mercado: Com produtos mais competitivos e inovadores, as empresas podem expandir sua participação no mercado, tanto em São Paulo quanto em outras regiões do país. 

Impacto nos setores sucroenergético, papel e celulose:
Os setores sucroenergético e de papel e celulose, que dependem fortemente dos bens de capitais para suas operações, serão diretamente beneficiados pela Lei do Aço:
⦁ Redução de custos na produção: A indústria sucroenergética e a de papel e celulose poderão reduzir seus custos de produção com a aquisição de bens de capitais a preços mais competitivos.
⦁ Aumento da eficiência operacional: O acesso a bens de capitais mais modernos e eficientes pode levar a um aumento na produtividade e na qualidade dos produtos finais.
⦁ Estímulo à investimentos: Com a perspectiva de um mercado mais favorável, as empresas desses setores podem investir em novas tecnologias e na expansão de suas operações. 

A propositura fortalece também a competitividade?
Rosana Amadeu - A Lei do Aço se configura como uma proposta estratégica para o desenvolvimento do setor de bens de capital em São Paulo, com impacto positivo em diversos setores da economia, como o sucroenergético, papel e celulose.
Ao reduzir custos, aumentar a competitividade e estimular a inovação, a lei contribui para a geração de empregos, o crescimento da economia e a consolidação do estado como um importante polo industrial. 

Qual sua avaliação sobre a reforma tributária? Organiza, burocratiza? O setor de bens de capital e serviços nacionais tende a ganhar ou a perder?
Rosana Amadeu - A reforma tributária, promulgada em dezembro de 2023, ainda em fase de implementação gradual, gera efeitos distintos para diferentes setores da economia. Avaliar se ela organiza ou burocratiza o sistema depende da análise específica de cada caso.

⦁ Simplificação e combate à guerra fiscal:
A reforma busca simplificar o sistema tributário brasileiro, substituindo cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por dois: a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), federal, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), estadual e municipal. Essa mudança tem o potencial de organizar o sistema, reduzindo a carga tributária e a burocracia para as empresas, especialmente para o setor de serviços.

⦁ Efeitos no setor de bens de capital e serviços:
O impacto da reforma no setor de bens de capital e serviços nacionais ainda é incerto e dependerá da implementação das leis complementares que definirão as alíquotas e regras específicas para cada tributo.

⦁ Possíveis benefícios:
Redução da carga tributária: A unificação dos tributos pode levar à redução da carga tributária para alguns setores, especialmente para aqueles que atualmente pagam PIS e Cofins sobre a receita bruta. Isso pode estimular o investimento e a produção, beneficiando o setor de bens de capital e serviços nacionais.
Fim da guerra fiscal: A reforma também busca acabar com a guerra fiscal entre estados, em que empresas se mudam para pagar menos impostos. Isso pode criar um ambiente de negócios mais justo e beneficiar empresas que competem em igualdade de condições. 

⦁ Possíveis desafios:
Aumento da carga tributária: Para alguns setores, a reforma pode levar a um aumento da carga tributária, especialmente se as alíquotas do CBS e IBS forem definidas em níveis altos. Isso pode prejudicar a competitividade das empresas nacionais.
Complexidade da implementação: A implementação da reforma é complexa e pode levar tempo para que seus efeitos sejam totalmente sentidos. As leis complementares que definirão as regras específicas para cada tributo ainda precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional. 

A seu ver, os efeitos da reforma dependem de leis complementares?
Rosana Amadeu - A reforma tributária brasileira tem o potencial de organizar o sistema tributário e beneficiar o setor de bens de capital e serviços nacionais, mas seus efeitos finais dependerão da implementação das leis complementares e das alíquotas que serão definidas para cada tributo.

 

Por Delcy Mac Cruz
Fotos: CEISE Br / divulgação.